Uma réstia de sol ao fim da tarde

Ontem à tarde passei acidentalmente pela frente de um aparelho de televisão a funcionar, um tipo de acidente de que saio, normalmente, com traumas múltiplos. Não desta vez! Numa “Grande Reportagem” da SIC Notícias, estavam a passar um interessante trabalho com crianças, uma espécie de entrevistas informais nos seus locais de recreio. Alguns dos miúdos, todos entre os seis a oito anos, pelo que me pareceu, eram absolutamente geniais.

Dissertavam sobre o mundo, o trabalho, os pais, o amor e a amizade... que no caso de um deles, especialmente em relação ao irmão, era «amor, paixão, amizade e maldade... tudo ao mesmo tempo», falavam dos futuros empregos (Quando fores crescido vais trabalhar? Não!!! Então assim, como é que arranjas dinheiro? Jogo à bola, como o Ronaldo!) falavam das diferenças entre os rapazes e as raparigas, falavam de dinheiro e da falta dele...

Subitamente, uma das mais faladoras, uma pérola de seis anitos com uma expressividade e brilho no olhar que a levarão longe, depois de declarar que «Se os crescidos estragarem o planeta, eu fico muito irritada!» - do que eu não duvido - resolveu pronunciar-se sobre o dinheiro... e os ricos:

«Acho que eles distraem as pessoas... e depois roubam-lhes o dinheiro todo!»

Seis anos!!! Não pude evitar lembrar-me da Mafalda do Quino... e não pude evitar ficar com uma certa inveja. Não, não é inveja dos seus seis anitos de idade. O que eu queria era ser sempre capaz de ver e interpretar o mundo com aquela limpidez de cristal.