Sim, amigos, o ambiente que se vive é de chumbo! Todavia, ainda é possível sair à rua e ver abertas de sol... promessas de um tempo melhor que aí vem.
Aconteceu-nos ontem. Saímos à rua no preciso momento em que o António Gervásio depositava na nossa caixa de correio um “Avante!”. É uma das suas ocupações: percorrer energicamente a cidade, a pé, distribuindo informação, propaganda... e estes excedentes do jornal, que sobraram da semana anterior.
O António Gervásio, para quem não souber, é um Homem, um camponês de quase oitenta e cinco anos... mas que continua a achar que a malta nova lhe trava o passo nas muitas iniciativas de rua e porta-a-porta em que faz questão de participar.
Teve uma vida cheia. Uma vida que dava um grande filme sobre a História do Alentejo. Aos dezoito anos de idade entrou para o PCP. Há sessenta anos, percorria ele esta terra grande, de cima abaixo e para todo o lado, fazendo milhares de quilómetros em bicicleta, clandestinamente, reunindo, mobilizando, esclarecendo, lutando com os seus companheiros camponeses, dia a dia, pela dignidade, pelo pão, pela liberdade, pela Reforma Agrária que haveria de chegar um dia...
Depois de Abril, viveu todos os minutos da mais bonita conquista da Revolução, a Reforma Agrária por que tinha lutado toda a vida. Assistiu ao milagre da produção, da terra partilhada, do pleno emprego...
Até a contra-revolução se abater sobre o Alentejo, ancorada em leis espúrias e decisões criminosas de Barreto e Mário Soares, ofensiva que, para liquidar a Reforma Agrária, viria a servir-se de todos os meios. Até do assassínio de trabalhadores.
Hoje continua, esclarecida e lucidamente a afirmar sem desânimo, que a Reforma Agrária é necessária.
Desculpem-me esta inusitada “aula” de História... mas este post, que aparentemente não servirá para nada, pode muito bem ser lido por algum jovem que, mesmo não deixando de ser quem é, ganhe a vontade de ser também, pelo menos um pouco como o António Gervásio.
Como disse, o ambiente que se vive é de chumbo! Todavia...